3.11.08

Um Mundo para todos

Esse texto foi extraido da comunidade Encontrei a Mensagem do Graal (http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=13186394) e fora escrito pelo meu amigo Marcelo, achei o texto e a mensagem tão bem desenvolvidas que compartilho aqui neste momento.

Um Mundo para Todos


Em uma sexta-feira comum, optamos por ir almoçar em um restaurante de culinária japonesa. Meus colegas de trabalho aceitaram a ideia, afinal, raramente vamos a um restaurante assim, pois o rodízio não é nada barato.

Durante o trajeto fomos abordados por uma transeunte. Ela estava trajada com vestes orientais, e achamos a situação um tanto engraçada, pois estavamos indo justamente a um restaurante oriental. Recebemos dela um hashi embrulhado em um singelo folheto, um anúncio de um novo restaurante de culinária japonesa que fora inaugurado na região. Achamos muito interessante, afinal, é uma opção a mais para conhecermos. O preço anunciado do rodízio era bem mais em conta em relação ao restaurante que estávamos indo. Mesmo assim decidimos continuar nosso trajeto para o alvo inicial.

Não era nem meio-dia quando chegando no estabelecimento, isso facilitou nossa acomodação. Escolhemos uma das melhores mesas, onde os garçons transitam a maior parte do tempo, facilitando nosso atendimento. Deixamos os folhetos que recebemos sobre a mesa. Isso foi tão natural que a princípio nem refletimos sobre essa atitude. Uma ligeira inquietação nos fez hesitar, trocamos umas palavras, rimos um pouco, e optamos em deixar toda aquela propaganda sobre a mesa mesmo. Queriamos ver o que sucederia com isso.

Aproximou-se de nossa mesa um senhor de cabelos grisalhos, muito simpático. Cumprimentou-nos, falando:

— Sejam bem vindos. Espero que apreciem nossa culinária.

Ele estava vestido com uniforme diferente dos outros garçons. Não perguntamos nada a respeito disso, mas concluimos que ele era o dono do estabelecimento. Ele olhou para nossa mesa e viu todos aqueles hashis embrulhados em folhetos. Surpreso, ele franziu a testa e falou:
— Oh, o que é isso? É do concorrente?
— É de um restaurante novo na região — eu disse calmamente, esperando para ver a reação dele.
— Posso? — perguntou ele, fazendo menção de pegar um dos folhetos.
— Claro, fique a vontade!

Neste momento nos entreolhamos com um ligeiro sorriso nos lábios. Não expressamos nenhuma palavra, mas eu sabia o que cada um estava pensando. Aquele senhor estava em um impasse, precisava reagir com sutileza e tinha pouco tempo para isso. Um silêncio terrível o pressionava, e ele ganhava tempo olhando calmamente o folheto.

Resolvi pegar um dos folhetos que ainda estavam na mesa, a situação estava começando a ficar engraçada e eu quis colocar um pouco mais de "lenha na fogueira". Abri o folheto rapidamente, e exclamei:
— Hmmm, o preço está bem em conta!

Eu já sabia o preço ofertado, mas a encenação facilitava a demonstração de surpresa. Segurei o riso, embora a atmosfera estava propícia para isso. Todos aguardavam com uma espectativa sarcástica. Não queriamos causar constrangimento algum, apenas não queriamos perder a piada.

O senhor expressou um sorriso, viu que precisava entrar na brincadeira. Fechou o folheto, e, colocando-o sobre a mesa, concluiu simpaticamente:

— Todos precisam ganhar dinheiro. Eu não ligo em ter concorrentes, eu não vejo assim. O mundo é para todos, e todos precisam ganhar o sustento para suas famílias. É o que temos que aprender a conviver, não é mesmo?

Não sei como cada um dos meus colegas de trabalho reagiu, mas isso me fez refletir bastante.— Fiquem a vontade! — exclamou o senhor, jovialmente, afastando-se.

Rimos um pouco sobre o que sucedeu, claro que de forma bem discreta. O assunto da mesa voltou ao seu rumo, mas as palavras daquele senhor martelavam em minha cabeça. Terminando o almoço, voltamos ao trabalho... a vida voltava ao "normal".

À noite, voltando para a casa, o trânsito estava infernal. Nessas horas precisamos manter a calma mais do que tudo. O carro à minha frente andou, e eu calmamente coloquei o meu em movimento também. O carro ao lado fez menção de entrar na minha pista. A co-piloto (minha esposa) ficou injuriada com isso, não queria que eu deixasse ele entrar na minha frente de jeito nenhum. Lembrei-me do almoço daquele mesmo dia, e contei a estória a ela da mesma maneira como a narrei acima. Ela me olhava, tentando entender o que eu estava querendo dizer. Então, concluí:

— Meu amor. Todos esses carros precisam ir para aquela direção também. O carro que entrou na minha frente não está querendo levar vantagem, apenas quer chegar ao seu destino, assim como nós. A concorrência não foi feita para criar conflitos, mas para que possamos aprender a conviver com os semelhantes.

Ela ficou mais calma, e reconheceu o que sucedia. E seguimos calmamente o trânsito, usando o tempo restante do trajeto para conversar de outras coisas. O trânsito deixou de ser incômodo, e o dia acabou melhor do que esperávamos...

Essa vivência sucedeu comigo, achei propício compartilhá-la por aqui. Creio ser bom refletirmos sobre isso. Muitas pessoas procuram instintivamente dar uma chinelada na barata quando deparam-se com dela. Penso, será que a barata é agressiva, ou a matamos apenas para que ela deixe de estar viva? Aprender a conviver é algo que devemos refletir não só entre nossos semelhantes, pois há muitos seres diferentes que lutam por um pedacinho do Mundo também, apenas para viver e desenvolver-se.

Obrigado amigo Marcelo por compartilhar tamanha vivência.