27.2.08

Desabafar e Aconselhar

DESABAFAR
A conversa e o desabafo de uma angústia são benéficos; posso certificá-los, porque partilho das minhas consternações com minhas amizades eminentes, e os amigos que sentem-se à vontade, contam comigo.

O desabafo é tão benéfico que é filosoficamente aconselhado, Voltaire dizia: todos nós sofremos, mas o falar nos dá alívio.

No desabafo, as amizades mais íntimas confiam uma na outra, e no diálogo das amarguras de um, o outro está apto a escutar, quando necessário, brota um conselho reparador perfluído com carinho. Nesta troca espontânea, ambos se preenchem de novas forças.

Há um poder fortalecedor de compensação entre as amizades pelo fato do dar e receber. Muitas pessoas necessitam doar de si através da consideração, do cuidado, atenção ao seu semelhante, é uma necessidade interior, um impulso. Quando o doador zeloso não consegue compartilhar, isto o angustia. E impossibilitado de doar de si, surge uma paralisia que o incapacita de absorver o novo.

As pessoas que pelas circunstâncias da vida necessitam de um apoio, precisam receber de alguém. Receber atenção, cuidado, consideração; todo este carinho as leva para cima, dando novas forças revigorantes.

Estamos a ver que pelo dar e receber, esta lei da Natureza da compensação, age também no convívio humano, possibilitando pela reciprocidade o fortalecimento interior, bem como a fortificação da amizade.

Não é difícil de compreender a afimartiva de que no íntimo do ser humano existe um impulso altruístico, como por exemplo, vivenciando e auferindo dos efeitos do ato de falar de desabafar.

O desabafo é muito importante, mas algo precisa ser acrescido. O fato de uma pessoa ver uma de suas queridas amizades com semblante triste, não é motivo para exigir que esta lhe conte o ocorrido, não estando obrigada a falar. Um bom amigo deve também entender que o silêncio é um direito, e para determinadas pessoas, e também à espécie de adversidade, a melhor coisa a ser feita é silenciar.


Autoria: Brunnus Reqqiem

ACONSELHAR

O ser humano, na maioria das vezes, aproveita-se do momento de fraqueza de outrem no momento em que lhe faz o desabafo para emitir conselhos que, na maioria das vezes julga essencial para o amadurecimento daquele lhe pede um ombro amigo.

Justamente nestes momentos em que aquele que se chega até nós sabendo que pode contar com um ombro amigo, muitas vezes acaba recebendo conselhos que no decorrer do caminho em nada vai lhe servir para o amadurecimento.

Levando-se em consideração que quando emitimos um conselho, este, nada mais é do que o reflexo do que NÓS faríamos se estivéssemos no lugar daquele que nos confidencia o desabafo. Geralmente nos sentimos impelidos a emitir um parecer acerca de tal acontecimento que nos é apresentado.

É neste comportamento de expressarmos nossa opinião e emitir conselhos que está o grande perigo, nós não nos damos conta da responsabilidade de nossos atos quando aconselhamos alguém, pois tal ato muitas vezes faz com que o aquele que recebeu o conselho não obtenha de suas vivências a reflexão necessária para galgar os degraus da ascensão, maioria dos casos em que aconselhamos alguém impedimos que tal pessoa chegue ao amadurecimento com as próprias decisões, embora a pessoa esteja apta a decidir se segue ou não o nosso conselho, e no caso de atuarem baseado em nossos conselhos ainda estaremos fadados a ouvir: Fiz aquilo que me indicaste, e não foi o melhor que deveria ter feito.

Neste caso o erro é tanto daquele que aconselhou quanto daquele que aceitou o conselho. Não se exclui o erro de nenhum dos lados.

Sempre acreditei que o melhor conselho que podemos dar a alguém é fazer com que a pessoa em questão escolha o melhor caminho para si sem que devamos interferir na escolha. Em outras palavras, devemos permitir que cada um encontre seu próprio caminho, baseado em suas próprias escolhas para que se colham vivências, porém a nós ouvintes resta que sejamos a luz que mostre que as respostas estão dentro de cada um, bastando apenas estar aberto para ouvir a voz da intuição.

Todo aquele que ao emitir um conselho que prejudique o semelhante ou não lhe permita aprender, seja errando ou acertando é tão ou mais responsável que aquele que deixou ser guiado por tal conselho. Devemos amparar, mas acima de tudo estarmos cientes de nossa responsabilidade ao aconselhar alguém.

O ato de aconselhar deve sempre brotar da voz interior, não apenas da boca pra fora, almejando sempre o bem querer daquele cujo conselho é direcionado. Pois é ai que vive o amor ao próximo, é ai também que paira a verdade.

Para tanto, observamos no texto do amigo que, muitas vezes apenas o ato de ouvir o que o outro tem a nos confidenciar já é de grande valia, pois ao agirmos como ouvintes, damos a oportunidade à pessoa de expressar o que está no seu íntimo, trazendo à tona suas aflições. Pois ela conseguirá identificar o caminho que leve a resposta que tanto necessita.

É no silêncio profundo, apenas com o ouvido da alma é onde encontramos a resposta para nossas aflições.

Autoria: Rafael Tavana