5.1.08

VIDA INTERIOR

Sempre houve as doenças da moda. Faz muito tempo que o estresse assumiu uma certa liderança urbana. As pessoas vivem estressadas. Agora o estresse está abrindo espaço para novas modas. A depressão, por exemplo, briga pelo trono com o estresse. Na verdade, e já disse isso aqui cansativas vezes, o que as pessoas pensam ser depressão é infelicidade.

E nesse caso, é bobagem drogar-se com comprimidos que não vão produzir resultado. Se a depressão for mesmo depressão, o tratamento é lento e implica em medicação e psicoterapia. De outro modo, vai ser difícil a pessoa sair do poço. E a moda mais recente, dentre as moléstias do asfalto selvagem em que vivemos, é a solidão. Aliás, sobre solidão, o Arthur da Távola, que é jornalista e político, tem uma boa frase sobre esse incômodo moderno.

O Arthur apresenta um programa de música clássica na TV Senado e ao terminá-lo sempre diz que música é vida interior e que quem tem vida interior jamais padecerá de solidão.

Essa frase é de pensar, quem tem vida interior não sofre de solidão. Sim, mas a pergunta se impõe, o que é vida interior? Bom, a resposta é mais ou menos como definir o que é felicidade. Cada um tem a sua receita, mas uma coisa é certa, vida interior, a meu juízo, resulta de alguma paixão. Não falo, claro que não, de uma paixão em carne e osso, isso não seria ter vida interior...

A paixão de que falo é por alguma coisa que possa ser vivida intensamente quando estamos sozinhos, nós e nós mesmos, ninguém por perto. A solidão de que se queixam as pessoas, e muitas até a confundem com depressão, vem dos vazios na vida. E por que as pessoas andam vazias?

Porque estamos num mundo de aparências, só o que está valendo é a beleza do nariz, da nádegas, da barriga, o que está valendo é o carrão, a casa ampla e sem vida por dentro, mas isso não importa, importa mostrar a casa... Enfim, a solidão abate cada vez mais pessoas porque os valores do ser de muito pouco servem nos dias de hoje. E como a maioria está vivendo pelos valores dos outros, pelos olhos dos outros, o que os outros pensam ou vão pensar, ah, isso é o que mais conta para a maioria.

Já notaste, leitor, que bem pouca gente suporta ficar em casa nos fins de semana? E por quê? Porque ficariam consigo mesmas, ou com maridos chatos ou mulheres amuadas, melhor então é pôr o pé na rua. Desapareceu a vida interior. Os casais estão vivendo a solidão compartilhada, um ao lado do outro, vazios, sem vida interior. Quem tem vida interior vê vida em quem está ao lado...

Luiz Carlos Prates

gentilmente cedido pelo amigo Bruno:
http://reqqiem.blogspot.com/